domingo, 25 de abril de 2010

O caráter elitista da Micareta.



Isaías, estudante militante do Feira X, um pouco do Micareta.


Todos os anos temos no Brasil uma festa popular chamada Carnaval, no qual, com o passar dos anos após sua primeira edição, acabou fixando-se como um momento cultural, que dá mais uma identidade ao país no exterior, dentre algumas outras. Como destacado na primeira linha do texto, carnavais ou festas de rua, a exemplo da Micareta – carnavais fora de época -, são festas populares realizadas durante alguns dias da semana, com o objetivo de promover lazer à população. No entanto, o que se tem visto com a crescente demanda empresarial em termos de produção de festa é que essas micaretas têm deixado de lado o caráter popular a ela atribuído inicialmente.
Na micareta de Feira de Santana, por exemplo, além dos exorbitantes valores nos custos dos famosos “blocos de cordas”, é cada vez mais perceptível a elitização também nos outros espaços, como o camarote e o corredor do mesmo, onde o chamado “folião pipoca” não tem acesso devido ao curto espaço delimitado apenas para os blocos de cordas. Sendo assim, é ali onde a micareta, de fato, se concentra para a mídia local e externa pois, é ali dentro que se encontra quem realmente pagou para a festa, é ali que se encontra, para os organizadores, a beleza estética do evento. Mas, onde fica o caráter popular da Micareta? Bem, há muito esses tipos de festas já deixaram de ser popular.
Muito se fala em conforto e comodidade em alguns espaços da micareta de Feira. Tudo isso sob reajustes nos valores de acesso que todo ano exclui quem menor condição tem para freqüentar tais espaços. E quanto aos camarotes que, além de oferecer segurança contra a violência durante a festa e inúmeras opções de divertimento para além dos trios elétricos, ainda se apresentam também como garantia de status para o folião. Esse tem sido o grande problema e, talvez, o que alimenta toda essa privatização nos espaços dessa festa popular. O sentimento de superioridade contido em cada folião ao adquirir um passaporte para o camarote ou até mesmo a compra do abada – nome dado às camisas dos blocos – mais caro da festa, tem se tornado o objetivo de todos aqueles que amam e não abre mão da micareta, independente do custo da sua inserção. E diante da conjuntura neoliberal em que vivemos, onde quem tem poder para adquirir, através do dinheiro, o que de melhor tem o mercado a oferecer, fica fácil para os empresários, organizadores da festa, planejar tudo nos moldes mais lucrativos, deixando assim, sem opção, uma grande parte da população que deve se contentar com os espaços mais distantes dos artistas e com um percurso cada vez menor por conta do crescente número de camarotes.
O que dizer então da venda da micareta para empresas monopolizarem a festa com o seu produto, por exemplo. Como se não já bastasse a privatização dos espaços, agora privatiza-se, na micareta de Feira, até mesmo os produtos a serem consumidos na avenida. Devido ao marketing e ao objetivo do lucro, o folião deve contentar-se apenas com uma opção de um determinado produto, sendo ele, o mais consumido nesse tipo de festa. A que ponto festas populares como a micareta de Feira de Santana chegará? Dessa forma, chegará o dia em que será demarcado o espaço do evento podendo adentrar somente os que pagaram, de alguma forma, os adereços que permitam o status, a beleza estética e o lucro dos organizadores.

Um comentário:

Unknown disse...

excelente texto parabéns, O país capitalista em que vivemos sempre será colocado a classe menos favorecida como meros objetos de ganho. Como você colocou explendidamente, uma festa cultural para o povo, festa de rua. Por forte influência do sistema de governo essa arte feita para o povo acaba perdendo a identidade e a real proposta do evento, e que vai perdendo força aos pouco e que vai passando dispercebido aos olhos de quem ver. Triste relaidade